terça-feira, 17 de novembro de 2009

"...E o vento levou"

  Petulante, mimada e egoísta, esses são termos perfeitos para descrever Scarlett O’Hara. Esse final de semana estive muito bem acompanhada ao lado de Clark Gable e Vivien Leigh enquanto me deleitava com as cenas de um filme que, em minha humilde e sincera opinião, é perfeito! “... E o vento levou” é um desses filmes que pode sim ser considerado um clássico, não é a toa que ele é realmente um. Lançado em 1939 nos Estados Unidos, “... E o vento levou” é uma adaptação do romance de Margareth Mitchell. A trama começa na Geórgia, em 1861, com a jovem Scarlett O’Hara – membro de uma família de senhores de terra, proprietária de Tara e apaixonada por Ashley Wilkes, que se casa com Melanie Hamilton, prima dos O’Hara. Na festa do anúncio do noivado surge Rhett Butler, interpretado pelo galã na época, Clark Gable. Comentários à parte, tirando aquele bigodinho estranho, o homem é de estremecer corações! Bem, Butler era conhecido como um aventureiro sedutor que não concordava com seus companheiros sulistas e prediz a derrota do Sul na Guerra da Secessão. Conflito esse em que os 11 Estados do Sul, formado por latifundiários e escravocratas enfrentaram o Norte industrializado e abolicionista. No filme, dirigido por Vitor Fleming, fica nítido como os fazendeiros sulistas defendiam a escravidão e como os negros eram tratados nessa época. Um dos exemplos é a cena em que Scarlett O’Hara agride sua empregada, bem mentirosa, Prissy, interpretada por Butterfly McQueen ao descobrir que ela não era uma parteira. Quando ocorre o conlito, Scarlett se casa com o frágil e bobinho irmão de Melanie, Charlie, para fazer ciúmes em Ashley. No entanto, não deu certo e logo ela ficou viúva, pois Charlie morre na guerra com pneumonia. Cansada do luto e chorosa por ter que usar apenas roupas de cor preta, O’Hara se muda para Atlanta onde passa a morar com sua tão querida e carinhosa prima Melanie. É nesse ponto que sua vida passa a se cruzar com a de Rhett. No fim de 1863, Ashley volta em licença e pede a Scarlett que cuide de Melanie, que está grávida, e anuncia a derrota do Sul na guerra. Rhett leva as duas primas para Tara, pois não estavam seguras em Atlanta. Scarlett encontra a fazenda em estado lamentável, sem comida, sua mãe morta, o pai louco e as irmãs doente. Eis que acontece o ponto alto do filme que me deixou arrepiada. Scarlett ergue seu braço para o céu e exclama: “Por Deus como testemunha, não vão me derrotar!” E chegamos ao intervalo. Essa primeira parte tem quase duas horas de duração. A segunda também. O que era de se esperar. O romance de Margareth Mitchell tem 1037 páginas. Sidney Howard entregou o roteiro com 50 páginas. O filme, antes de passar por alguns cortes, tinha cerca de 5hs, considerado cansativo para a indústria cinematográfica. Imagine, na década de 30 fazer um filme considerado o up do cinema com 5hs de duração?!
  A segunda parte do filme encontramos uma Scarlett mais amadurecida por conta de todo seu sofrimento e as responsabilidades que precisou tomar. Mas, ainda assim petulante e egoísta. Ela se casa com o prometido da irmã para conseguir dinheiro e não perder a fazenda, continua a dar em cima do marido da prima e depois de ficar viúva, finalmente se casa com Rhett. Apesar que o casamento dos dois não foi um mar de rosas. As discussões eram constantes e até ciúmes da filha que tiveram, a mulher teve. Filha essa que morre após uma queda no pônei. Logo depois, Melanie cai doente e ao morrer, Scarlett percebe que na verdade nunca amou Ashley, mas sim seu marido Rhett Bluter, que a essa altura já não quer mais saber da mulher que tanto amou dispara sua frase mais conhecida quando Scarlett indaga sobre o que fará sem ele: “Francamente, minha querida, não dou a mínima”. Scarlett desistiu? Não. Ela resolve lutar por seu amor, assim como ela lutou para reconstruir Tara, mesmo passando por cima de muita gente. Lembra da cena do juramento? E então, termina o filme.





Curiosidades do clássico


• Em Nova York de 1936, Kay Brown, uma analista de roteiros do estúdio Selznick International Pictures, emitiu um telegrama ao seu chefe, David O. Selznick, descrevendo apaixonadamente a qualidade do livro de Margareth Mitchel;
• 24 de maio, Selznick se rendeu as palavras de Brown e aceitou o desafio de produzir “…E o vento levou”;

• Selznick escolheu Sidney Howard, roteirista de Fogo de Outono para adaptar o romance para o cinema e George Cukor para dirigir o longa;

• Em 14 de dezembro de 1936, Howard já havia produzido uma sinopse de 50 páginas com um primeiro tratamento do roteiro, de onde havia eliminado vários personagens secundários e informações sobre os pais de Scarlett;

• 5.500 roupas foram criadas;

• Em agosto de 1937, Howard enviou o primeiro roteiro com 400 páginas, equivalente a cinco horas e meia de filme;

• Desde o anúncio da filmagem de “…E o vento levou” o público e imprensa haviam escolhido Clark Gable para ser Rhett Bluter, mas o ator no inicio não aceitou por medo de não conseguir corresponder as expectativas dos espectadores como Rhett;

• Após muitas reuniões, encontros, conversas e contratos ficou acertado que Clark Gable seria Rhett Bluter;

• A data escolhida para o inicio das filmagens foi 26 de janeiro de 1939. Detalhe: sem Scarlett e sem roteiro;

• A cena do grande incêndio em Atlanta foi rodado primeiro no dia 10 de dezembro de 1938;

• Nessa cena estavam presentes 10 esquadrões do Departamento de Bombeiros de Los Angeles, dentro do estúdio outros 50 bombeiros e 200 auxiliares;

• Para manter o imenso fogo vivo por mais de 40 minutos, o especialista em efeitos especiais, Lee Zavitz encontrou uma solução: uma rede dupla de tubos que lançariam querosene e água, respectivamente;

• Os materiais usados para queimar foram velhos cenários de “Um garoto de qualidade”, “O Rei dos Reis”, “O Último dos Moicanos” e a porta gigante de “King Kong”;

• Dois especialistas caracterizados como Rhett e uma substituta de Scarlett (que tapava o rosto porque ainda não havia atriz contratada) fizeram parte dessa cena, fugindo em uma carroça pelas ruas em chamas;

• Paulette Goddar, a preferida para interpretar Scarlett, ainda realizou testes em 20 de dezembro, um dia antes de Vivien Leigh enfrentar a câmera para o seu próprio teste;

• Vivien Leigh soube que seria Scarlett O’Hara no dia 25 de dezembro daquele ano e dia 13 de janeiro de 1939 o contrato foi assinado;

• Foram utilizadas sete câmeras technicolor para filmagem (o total de câmeras em Hollywood);

• Em 12 de fevereiro, Cukor abandonou as filmagens e Selznick correu atrás de outro diretor, escolhendo Victor Fleming que na época rodava “O Mágico de Oz” para a MGM. Ele aceitou apenas por sua amizade com Clark Gable;

• O roteiro desagradou Fleming e o produtor chamou Ben Hecht, o primeiro roteirista que descartou ao escolher Sidney Howard;

• Hecht recuperou o script original de Howard, utilizou-o como guia e resolveu deixar de lado a fragilidade do roteiro original, compactando e dando um apelo visual que nenhum outro conseguiu alcançar, tudo por apenas 15 mil dólares;

• William Cameron Menzies, diretor de produção, concebeu a famosa panorâmica da estação de Atlanta, na qual a câmera se eleva entre milhares de mortos e feridos;

• Como a maior grua de Hollyood só alcançava oito metros, e Menzies precisava de uma que chegasse a trinta, trouxeram uma especial dos estaleiros de Long Beach;

• Foram solicitados 2000 figurantes, mas apenas 800 compareceram. A solução encontrada foi ao lado de cada homem colocar um manequim movido por um cabo que o extra deveria manipular. Sobre a grua estavam Fleming, Menzies e do diretor de fotografia Ernest Haller;

• No dia 11 de dezembro de 1939, David Selznick enviou um telegrama a Kay Brown, a funcionária que havia lhe chamado atenção para o romance: “Acabamos de filmar o livro. Que Deus abençoe a todos”;

• Houve três dias de festas para o lançamento do filme;

• Na véspera da estreia, foi realizado um baile com 3000 convidados onde estiveram todas as pessoas importantes da cidade, entre eles, Martin Luther King;

• Do quarteto protagonista, morreram trágica e repentinamente Leslie Howard, Clark Gable e Vivien Leigh;

• “…E o vento levou” foi o ganhador de 8 Oscars por melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro, melhor atriz principal (Vivien Leigh venceu por pouco Betty Davis), melhor atriz coadjuvante (Hattie MacDaniel), melhor fotografia em cor, melhor edição e melhor direção artística;

• William Cameron Menzies ganhou o Oscar de honra pelo uso de cor em um drama;

• Don Musgrave recebeu o Oscar técnico pela coordenação de equipe de produção.

Nota final:

Inácio Araújo, crítico de cinema da Folha de São Paulo disse certa vez: “As décadas entram e saem, e o filme rodado em 1939 por David O. Selznick parece continuar lá onde sempre esteve: não uma saga da Guerra de secessão, mas a saga, aquela que concentra tudo o que existe de épico e baixo, de romance e sofrimento, de ódio e amor do norte pelo sul (dos Estados Unidos) e vice-versa.” Se comparado com os filmes que hoje são rodados em Hollywood, muito pouco foi feito em “…E o vento levou”. Entretanto, levando a época em que foi filmado, os recursos utilizados, as interpretações magníficas de Gable, Leigh e outros atores, o roteiro majestoso, o romance espetacular de Margareth Mitchel e a direção de Cukor e mais tarde Fleming, talvez esses tenham sido os ingredientes perfeitos para um filme que não saiu da memória de muitas pessoas. Um filme que conquistou corações e se fez com grande mérito um clássico de todos os tempos.

Fonte: Coleção Folha Clássicos do Cinema

domingo, 1 de novembro de 2009

O cinema abre as portas para o 3D

  Tudo começou na década de 50 com o surgimento do cinema 3D tendo como objetivo atrair o público que estava fascinado pela recém-criada televisão. No entanto, os defeitos de sincronia e a dor de cabeça que os óculos causavam fizeram com que essa novidade logo passasse. A segunda tentativa ocorreu na década de 70 com a sincronia reformulada, mas com a falta de roteiros. Atualmente o 3D vem totalmente restaurado com projetores especiais, tecnologia de ponta e roteiros prontos para receberem a nova era digital. O objetivo continua o mesmo, atrair espectadores para as salas escuras, levando em conta outros concorrentes, DVD e Home Teather.
  Apesar da nova fase do cinema, não é qualquer cineasta que consegue trabalhar com o 3D. Eric Breving, do Viagem ao Centro da Terra, afirmou a revista Veja em reportagem divulgada no dia 09 de julho de 2008, que o 3D deve ser usado apenas para quem entende da técnica. Caso contrário o filme fica ruim e o diretor louco.
  O efeito tridimensional é obtido por uma câmera com duas lentes que captam imagens diferentes da cena ou do objeto. Além disso, elas estão mais ágeis, devido as constantes pesquisas, estudos e persistência de James Cameron, que ficou sem lançar um longa desde Titanic, mas volta em dezembro com Avatar. O diretor precisou criar uma câmera, conhecida como Fusion, para colocar seu projeto em prática.
  Para um filme 3D ser um sucesso, os óculos passaram por um ajustamento. O novo acessório faz a junção da imagem por meio de lentes polarizadas que filtram apenas as ondas de luz e não as cores. Ao contrário da antiga técnica que utilizava duas camadas de cores, azul e vermelha.
  Além de ser um atrativo para aqueles que esperam por novidade, a projeção em 3D tenta mudar o quadro atual do número de espectadores que antes preferiam ir ao cinema e hoje optam por assistir filmes em casa. As pesquisas realizadas ao longo dos anos, de acordo com o site Filme B, apontam que em 1976 o público total no Brasil era de 250 milhões de espectadores; na década de 90 esse número caiu para 70 milhões; em 2003 apresentou a marca de 100 milhões de ingressos vendidos e em 2007 o ano fechou com um total de 88,6 milhões de espectadores.
  Nos Estados Unidos o 3D é financiado pelos estúdios de cinema, pois a distribuição dos filmes em cópias digitais fica mais barata. No entanto, no Brasil quem financia é o próprio exibidor. Esse é um dos motivos de poucas salas equipadas com projetores 3D. A primeira sala com essa projeção no país foi inaugurada em 2006 pela Cinemark.
  Atualmente existem três tecnologias para o cinema 3D:
  Real D: apresenta um projetor com tela pequena por onde passa a imagem. A tela é prateada, os óculos são de plásticos e funcionam como um filtro selecionando as ondas de luz emitidas pelo projetor;
  Dolby Digital: possui um projetor com microespelhos interno. A tela tem cor branca e recebe tratamento especial polarizado que a torna mais cara. Os óculos tem lentes de cristal coloridas e após o uso são higienizados;
  Imax: tecnologia digital. Seu projetor possui um sistema denominado como Rolling Loop, que são duas faixas de filme que correm ao mesmo tempo. A tela tem 16m de altura e 22m de largura, ou seja, cerca de três vezes o tamanho de uma tela comum. Cada lente dos óculos capta imagens de uma das faixas de filme e o cérebro é responsável por junta-las.
  De acordo com especialistas, um projetor 3D custa em torno de 110 mil dólares. Incluindo os impostos de importação, ao entrar no Brasil, o equipamento passa a custar cerca de 500 mil reais. Isso explica o preço alto dos ingressos e a contribuição contra a pirataria. Uma organização formada pelos estúdios Disney, Fox, Paramount, Sony, Universal e Warner, estabeleceu que os filmes em 3D sejam encriptografados com códigos que são traduzidos para liberar a projeção momentos antes das sessões.
  Apesar do alto valor dos bilhetes, o número de públicos tem despertado o interesse no Brasil e no mundo para a indústria cinematográfica. Até 2011 estão previstos 21 lançamentos, a maioria americano. Com relação ao Brasil, pelo menos cinco projeções estão na busca do título de primeiro longa brasileiro exibido em 3D. De acordo com Marcelo Siqueira, diretor ténico e supervisor de efeitos da TeleImage, a produção mais próxima de conseguir esse título é Brasil Animado. A obra de Mariana Caltabiano vai mesclar animação com cenários reais e está prevista para ser lançada no próximo ano.
  E em termos de lançamento, no dia 18 de dezembro, o mundo vai conhecer Avatar de James Cameron como mencionado acima. Uma grande expectativa tem sido gerada em torno do filme, levando em conta que o diretor passou um tempo considerável nesse projeto e todo o investimento gasto para colocá-lo em prática. A Fox gastou cerca de 237 milhões de dólares para produzi-lo.
  A narrativa gira em torno dos Na’vi, seres azuis com feições felinas de 3 a 4 metros de altura. O humano Jake, interpretado por Sam Worthington, se infiltra entre os Na’vi e conhece melhor o povo. Como todo filme, ele se apaixona por uma alien e tem de escolher em que lado ficará quando a batalha começar. Para o site Omelete.com, Avatar é uma mistura de Dança com Lobos, Pocahontas e o Último dos Moicanos.
  Uma vez que James Cameron ficou mais de 10 anos sem lançar um longa, Avatar pretende revolucionar o novo 3D e abrir as portas para as futuras e não muito distantes, projeções para o cinema tridimensional.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O cinema bate em JF

  Para os adeptos e simpatizantes do cinema brasileiro, começou hoje em Juiz de Fora o Festival Primeiro Plano. O evento é promovido pelo grupo Luzes da Cidade e acontece até o próximo sábado (31) com longas e curtas-metragens, além de debates e sessões especiais para as crianças. O objetivo é propor uma discussão sobre caminhos alternativos para produzir cinema. Sabe-se que a escassez de recursos é uma das mais antigas barreiras enfrentadas pelos cineastas brasileiros, principalmente os iniciantes. Entrentanto, essa dificuldade não tem impedido que novas produções independentes se multipliquem, em consequência do baixo custo das tecnologias.

Apresentação dos longas:
*Segunda: Histórias de amor duram apenas 90 minutos, de Paulo Haim - exibição: Cine-Theatro Central
*Terça: Teste de elenco, de Ian SBF e Osiris Larkin - exibição: Cinearte Palace
*Quarta: No meu lugar, de Eduardo Valente - exibição: Cinearte Palace
*Quinta: Mistéryos, de Beto Carminatti e Pedro Merege - exibição: Cinearte Palace
*Sexta: A quien llamarias?, de Martin Viaggio - exibição: Cinearte Palace.


Fonte: Tribuna de Minas.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Um mundo, uma cultura

Com vinte e cinco anos tenho vontade e curiosidade de conhecer muitos lugares. A começar pelo meu país – Brasil. Cada região uma cultura diferente, um povo com sua história e sotaques. Minha curiosidade vai além, assim como o traço em um mapa. O traço sobe, vira para o lado e segue, desce, volta... Países como México, Canadá, Espanha e Portugal com certeza fazem parte do meu itinerário. Entretanto, tenho muita curiosidade em conhecer determinados lugares que estão longe de serem aclamados como o melhor ponto turístico do mundo. São lugares que podem mexer com meu interior, fazer ver a deficiência do ser humano e ir além em uma história registrada há séculos. Refiro-me a países do continente africano o e Afeganistão. Esse último chamou minha atenção não apenas pelo atentado ocorrido há oito anos nos Estados Unidos. Mas, por um livro que tive o privilégio de ler e tornou-se um dos meus preferidos, “Cidade do Sol” de Khaled Hosseini. Antes de comentar a respeito dessa belíssima obra, pesquisei um pouco sobre essa região vítima de tantos conflitos, há maior parte religiosa, mas que busca apenas encontrar a paz.
  Há séculos o Afeganistão é marcado por conflitos atingindo diretamente sua população. Esse país tão sofrido limita com o Paquistão ao sul e leste, com o Irã a oeste, com o Turcomenistão, o Uzbequistão e o Tadjiquistão ao norte, e com a China a nordeste.
  Ao longo de sua história, o Afeganistão assistiu a diversos invasores e conquistadores. No século VI a.C a região foi ocupada pela civilização bactriana – formada por um povo que incorporava elementos das culturas hindu, grega e persa. O país foi convertido ao islamismo no século 8, e ocupada pelos turcos gasnévidas, que foram derrotados no século 12 pelo afegão Mohammed de Ghor. Logo depois ocupou o Penjab (Índia) e fundou o sultanato de Deli, que fez parte do Afeganistão até 1526, quando foi conquistado pelo Império Mongol. No século 18, o país foi invadido pelos persas e posteriormente conquistou a sua independência com Ahmed Xá. O Império Durrani, fundado em 1747, tinha por capital a cidade de Kandahar; posteriormente a capital foi transferida para Cabul e a maior parte do seu território cedida a países vizinhos.
  Durante o século 19, Rússia e Inglaterra disputaram a influência sobre o Afeganistão, armando facções rivais em luta pelo poder. Com o enfraquecimento inglês na Primeira Guerra Mundial, através do emir Amanullah, o país obteve sua independência.
  Em 1928, o rei Amanullah promoveu uma modernização radical, mas o clero muçulmano revoltou-se, e o emir abdicou. Seu sucessor, o general golpista Nadir Xá, foi assassinado em 1933, sendo sucedido pelo filho, Mohammed Zahir Xá, que manteve o país neutro durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a Guerra Fria, Zahir Xá equilibrou-se entre EUA e URSS. Durante os anos 50, apoiou o Paquistão Oriental contra o Ocidental. Na Constituição de 1964, o Afeganistão adotou o parlamentarismo; o primeiro-ministro Hashim Maiwandwal (1965-1967) modernizou a economia e manteve a política de não alinhamento. Em 1973, por causa de uma crise econômica provocada por anos seguidos de secas desastrosas, o general Daud Khan deu um golpe de Estado e proclamou a República. No entanto, cinco anos depois o general foi derrubado por militares pró-soviéticos. A sociedade tradicional não aceitou as mudanças; após o assassinato dos governantes Taraki e Amin, Barbrak Kamal ocupou o poder com a ajuda soviética.
  A resistência dos fundamentalistas islâmicos (Mujahidins) iniciou uma guerra com a URSS, que durou até 1989. Brabrak Kamal foi sucedido por Mohammed Najibullah, que por sua vez, foi destituído em 1992.
  Os mujahidins ou “guerreiros sagrados” mantiveram-se unidos até a tomada do poder. Devido à diversidade étnica, dividiram-se. E em 1993 surgiu o Taleban – uma expectativa de muitos na mudança positiva do país. O que foi um enorme engano. Em 1996 essa milícia extremista islâmica tomou o poder em Cabul, impôs leis absurdas e utilizava da violência para repreender os “rebeldes”. Seu objetivo era estabelecer o "mais puro" Estado islâmico do mundo, banindo TV, música e cinema. O grupo adotou a lei islâmica, incluindo execuções públicas e amputações para criminosos, além de não reconhecer os direitos das mulheres. Eles proibiram que as mulheres frequentassem escolas e universidades ou trabalhassem fora da área de saúde. No entanto, em 2001 perderam a força, após o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos. A acusação de que estariam dando proteção a Osama Bin Laden – “cabeça” dos atentados, deram motivo para que os norte-americanos invadissem a região a caça do terrorista.
  Hoje, o Afeganistão ainda vive em plenos conflitos. Talvez mais intensos do que os anteriores. São 30 anos que aquele povo não conhece os significados das palavras alegria e paz. Mas, acredito que a única coisa que ainda não morreu em seus corações foi à esperança. Esperança de que uma grande nação venha acabar com todo aquele sofrimento e tira-los do mais profundo pesadelo. É nesse país que se passa à história narrada por Khaled Hosseini, “A Cidade do Sol”.
  Mariam tem 33 anos. Sua mãe morreu quando ela tinha 15 anos e Jalil, o homem que deveria ser seu pai, a deu em casamento a Rasheed, um sapateiro de 45 anos. Ela sempre soube que seu destino era servir seu marido e dar-lhe muitos filhos. Laila tem 14 anos. É filha de um professor que sempre lhe diz: "Você pode ser tudo o que quiser”. Ela vai à escola todos os dias, é considerada uma das melhores alunas do colégio e sempre soube que seu destino era muito maior do que casar e ter filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos. Mariam e Laila se encontram, absolutamente sós. Hosseini narra de uma forma delicada o encontro dessas duas mulheres, os sonhos, os medos e a esperança de serem felizes em uma terra que não existe paz.

domingo, 6 de setembro de 2009

Escrever é uma arte

No ano passado, meu amigo Lugui Castro, passou uma missão: escrever um conto! O objetivo era exercitar meu lado escritora que andava um tanto apagadinho. E deu certo! Eis que nasceu Um amor por toda vida, conto que retrata o romance proibido entre duas pessoas com um final inesperado.
Um amor por toda vida

Sofia despertou lentamente sentindo aquele conhecido abraço envolve-la carinhosamente. Aconchegou-se mais naquele refúgio protetor absorvendo todo o calor e aroma que a pele de ébano desprendia. Assim teria sempre o que recordar quando ele fosse embora. Olhou para o relógio de pulso sobre a cômoda de madeira. Três horas da manhã. Sufocou um gemido de tristeza. O coração já sangrava de saudade dos beijos, abraços, carinhos e conversas trocadas em um ano. Como pode ter passado tanto tempo? O tempo foi seu maior inimigo e a venceu facilmente. Contava com sua ajuda para ter aquele homem amado sempre junto a si e fracassara. O que aconteceria quando voltasse para casa? Como passaria os dias sabendo que nunca mais o teria ao seu lado? Seus olhos encheram-se de lágrimas e não conseguiu evitar o choro sofrido e compulsivo que ameaçava rasgar todo o seu ser.
Sentiu o toque dos lábios carnudos contra a sua pele e recriminou-se por te-lo acordado com suas lamúrias.
“Sofia”.
A voz profunda penetrou em seu corpo arrepiando-a por completo.
Negou-se a fitá-lo. Não queria que presenciasse seu sofrimento. No entanto, sabia ser impossível.
Tentou secar o pranto, mas ele a impediu segurando sua mão e virando-a contra si.
- Gabriel... Eu o amo tanto – sua voz não era mais que um sussurro entrecortado – Não se case, por favor.
“Sofia”. Foi a única palavra proferida por aqueles lábios que tanto gostava de beijar, antes dele tomá-la nos braços e amá-la docemente.

Dois anos depois...

Os dedos de Sofia voavam sobre o teclado do computador. Precisava entregar esse trabalho digitado em menos de vinte minutos e ainda tinha que ser impresso. Será que conseguiria? Lembrou do conselho de Pedro, um amigo que trabalhava em Macaé. Ele dissera certa vez para ter sempre confiança das coisas que fizer na vida. Assim, certamente, tudo sairá como o planejado. Pois bem, conseguiria entregar seu trabalho a tempo, pensou confiante.
Estudava em uma das faculdades mais conceituadas de Juiz de Fora, a Millenium. Através do vestibular e de uma bolsa que conseguira com entrevistas conquistara sua vaga no curso de letras e estava adorando. Há quase dois anos, antes dos exames que a fizeram ingressar na instituição, pensou que não conseguiria, já que estava passando por momentos muito difíceis. Retornar ao passado, mesmo que recente, era como abrir feridas mal cicatrizadas.
Maria, sua amiga, que estudava jornalismo na mesma faculdade, a ajudou muito. Sabia que sem o seu apoio teria caído doente na cama e com depressão.
O relacionamento com seus pais adotivos não eram dos melhores e quando decidiu sair de Cataguases para morar em Juiz de Fora, só fizera aumentar o conflito entre eles. Desde então, as ligações eram raras como se fossem uma obrigação para saber como a filha estava e vice-versa. Não conseguia entender o porque de terem a adotado quando contava com apenas um ano de idade.
Lembrou das conversas que tinha com Gabriel. Ele sempre tentava de alguma maneira reaproximá-la da família. Até mesmo se ofereceu a ir à cidade para conhecer seus pais e para que ela os visitassem. Levando em conta a forma como estavam juntos e o fato dele estar comprometido, não achou muito adequado.
O dialogo sempre estava presente entre eles. Os encontros eram frequentes e sempre no apartamento em que dividia com Maria. Nele assistiam filmes, escutavam músicas, jantavam e terminavam a noite fazendo amor. Um entregando-se nos braços do outro.
Mas como tudo que é bom dura pouco, um belo dia...
Voltou sua atenção para a tarefa e assustou-se quando Maria apareceu e sentou ao lado.
- Ocupada? – inquiriu ela baixinho.
- Muito. Preciso terminar de digitar isso – apontou para a tela do computador.
Maria fez uma careta.
- Estou indo para casa. Antes passarei no mercado. Quer alguma coisa?
- Não. Quer ajuda?
- Com as sacolas?
- Não, com dinheiro.
- Esqueceu que esse mês é meu? Se fosse ajuda com as sacolas...
- Adoraria ajudá-la, mas depois que terminar isso, preciso estudar para minha prova hoje e...
- Relaxa Sofia. Eu sei que você tem prova. Além disso, acho que passarei na loja do João e pedirei a ajuda dele... Sabe como é... Muitas sacolas...
Sofia riu e massageou a nuca. Poxa, estava tão cansada. Seu corpo pedia cama e descanso com urgência.
- Por que não vai para a casa? – aconselhou Maria notando a tensão na amiga.
- Não posso.
- Quando seu exame de sangue fica pronto?
- Em três dias.
Nos últimos meses a fadiga a abatia cada vez mais. Sentia muitas dores de cabeça, sua gengiva e nariz sangravam com frequencia e emagrecera consideravelmente. Sem contar o desmaio que teve no dia anterior enquanto trabalhava na cantina da faculdade. Nos olhos carregava a tristeza e apatia. Para despreocupar sua amiga, Sofia aceitou ir ao médico que pediu uma bateria de exames, entre eles o de sangue.
Maria sabia que a amiga sofria muito. Tanto física, quanto psicologicamente. Nos últimos dias, vendo-a tão entregue às dores, sentiu uma necessidade incontrolável de procurar Gabriel. Apenas ele, faria Sofia sair daquele mundo que construíra e que mal conseguia dar seus passos. Dois anos não foram suficientes para fazê-la esquecer, por mais que ela dissesse o contrário.
- Assim que ficar pronto você vai ao médico?
- Claro, Maria. Nós já conversamos sobre isso. Por que essa pergunta novamente?
Maria fitou a amiga. Os olhos perderam aquele brilho que atraía a todos, os cachos vermelhos estavam sem vida, opacos e ralos. Estava tão preocupada com Sofia que não sabia o que fazer. Deveria chamar os seus pais? Por mais que houvesse desavenças, ainda assim eram seus pais. Não a teriam adotado à toa. Sabia que havia muito amor entre eles, o orgulho apenas interferia naquela relação.
- Vou ao mercado.
- Maria, você não tem comentado nada com João, né?
Esse era um dos receios de Sofia. João era o melhor amigo de Gabriel. E no dia do casamento, ele e Maria ficaram ao seu lado o tempo todo enquanto ela se queixava de febre e dores de cabeça. Não queria que a amiga comentasse sobre sua saúde frágil com João, pois sabia que ele contaria a Gabriel, na primeira oportunidade.
- Sabe que não – mentiu Maria.
- Não quero que Gabriel saiba o que eu tenho passado e o João com certeza...
- Não se preocupe Sofia, o João não sabe de nada.
Que Deus a ajudasse com aquela mentira!
Despediram-se. Sofia não estava muito satisfeita com a resposta da amiga, mas contentou-se em continuar seu trabalho.
À noite, chegou em casa estressada e cansada. Seu corpo doía tanto que parecia ter lutado boxe. Aquilo só poderia ser uma forte gripe. Antes de entrar no banheiro, foi à cozinha e procurou por aspirinas na gaveta do armário. Encontrou e tomou dois comprimidos. Talvez se sentisse melhor no dia seguinte. Por sorte, seria sábado e poderia ficar até tarde na cama. Em seguida dirigiu-se ao banheiro e enfiou-se debaixo do chuveiro permitindo que a água morna relaxasse o corpo cansado e aliviasse as dores. Em menos de quinze minutos se enxugava em frente ao espelho e percebia uma pequena mancha roxa em sua perna. Onde teria esbarrado? Continuou passando a toalha rosa e felpuda sobre a pele delicadamente e escutou passos no corredor.
- Maria, você chegou agora do mercado? – indagou ao abrir a porta e ir para o quarto.
A amiga não estava ali. Só poderia estar na sala ou na cozinha.
- Maria...
Não.
- Gabriel?
Parada ali no meio da sala, sentia-se como uma intrusa em seu próprio território. Sentiu vontade de correr para os braços dele e abraçar-lhe o adorado corpo, sentir aquele cheiro que atraía todos os seus sentidos. Beijar aqueles lábios... Dois anos. Dois anos e seu corpo ainda tremia ao estar próxima a ele. Fechou os olhos e abriu-os para certificar-se de que estava sonhando. Não. Não estava. Pelo contrário. Ali estava ele, em pé à sua frente com os olhos brilhando de paixão e saudade, o corpo esperando o encontro com o seu. Atraída, aproximou-se lentamente, tentando não trair seu nervosismo, mesmo sabendo que era impossível. Ergueu as pequenas mãos e acariciou delicadamente o rosto másculo e charmoso que adorava deitar em seu colo. Era ele e estava com ela agora. As lágrimas deslizavam livremente em seu rosto e sorriu deliciada com aquele reencontro. Abraçou-o, sentindo os braços fortes a apertarem contra ele. O calor do corpo amado abrigava o seu, agora tão enfraquecido. Chorou. Chorou como nunca havia chorado antes. Nem mesmo quando ele se casou. E como resposta recebia afagos, consolo, palavras doces e seguras de que estavam juntos e não iriam se separar mais. Seus lábios se encontraram em um beijo mágico repleto de amor e desejo contidos. Sentia o corpo sendo coberto por carícias íntimas e delicadas e emitiu um gemido de surpresa quando ele a ergueu nos braços e levou-a para o quarto, onde a depositou lentamente sobre a cama coberta com uma colcha lilás.
Encantada Sofia o observou despir-se e em seguida despí-la entre beijos e carícias profundas. Já não havia mais dor. A presença dele era como um analgésico para sua alma ferida. E então se assustou quando ele deitou ao seu lado, abraçando-a fortemente e cobrindo os corpos com um leve lençol.
- Gabriel...
- Hoje vamos dormir Sofia. Hoje quero sentir seu corpo moldado ao meu e vê-la repousar enquanto tiro as dores que sente.
Com os olhos marejados, Sofia mal conseguia acreditar no que havia acabado de ouvir. Uma coisa tinha certeza, devia muito para Maria.
E então, adormeceu tranquilamente como há muito não fazia.

No dia seguinte, Sofia acordou e deu um pulo na cama como se tivesse acabado de despertar de um sonho maravilhoso. Ergueu o lençol e sorriu surpresa. Nua, teve a certeza de que tudo não era apenas sonho, era realidade. Os beijos, os carinhos, a segurança de estar deitada entre braços fortes. Mas onde estava Gabriel? Vestiu uma camisa comprida e saiu à procura do anjo amado. Encontrou-o na cozinha preparando o café.
- Bom dia.
- Bom dia Sofia.
Aquela voz penetrou em seus ouvidos tendo o poder de arrepiá-la.
- Não acredito que está aqui...
Gabriel sorriu.
Ele estava tão lindo.
- Senti sua falta, meu amor.
Sofia deixou-se abraçar sentindo-o todo seu.
- Também senti muito a sua falta. Gabriel, Maria foi procura-lo?
- Sim. Estava, alias, está muito preocupada com você. Disse que tem sentido dores, que não tem se sentido bem... Meu amor, o que está acontecendo? Não quero perdê-la... Preciso saber que está bem para continuar bem.
Sofia se afastou e sentou no sofá.
- Onde ela está?
- Passou a noite no apartamento de João. Queria nos dar privacidade.
Sofia olhou para a mão esquerda a procura do anel dourado e não encontrou.
- Você... ainda... está casado?
- Sim Sofia, estou. Mas não posso continuar tranqüilo sabendo que está sofrendo e por minha culpa.
- Gabriel... o que? Não estou sofrendo. Estou muito bem. Não seja presunçoso...
Nervosa, Sofia levantou-se e sentiu uma tontura forte dominá-la. Se não fosse por Gabriel teria caído.
- Está fraca, meu amor e quero cuidar de você.
- Não preciso da sua ajuda. Volte para seu casamento, para sua esposa, para sua casa... Me deixe em paz...
- Não! Passarei o final de semana cuidando de você, dando muitos beijos nessa boca que me enlouquece e acariciando esse corpo que me tira do sério.
- Não pode estar falando sério Gabriel! Que tipo de homem é você? Devo lembrá-lo de que está casado?
- Não. Você não conseguiria entender Sofia. Nesses dois anos tive noticias suas através de João. Sofria e ficava preocupado por saber que não estava bem. Meu casamento...
- Por que se casou?
- Meu Deus Sofia, estava noivo há cinco anos. Não conseguiria terminar uma relação assim... Do nada.
- É impossível amar duas pessoas, Gabriel.
- Sei disso. Amo você, mais do que tudo nesse mundo. Meu casamento foi o pior erro que cometi... É horrível deitar ao lado de uma mulher pensando e desejando outra. Não parei de pensar em você depois de casado. Ontem Maria me ligou marcando um encontro para que pudéssemos conversar. Assim que ela chegou eu percebi que nada estava bem. E que você não estava bem.
- Gabriel...
- Deixe-me ficar com você nesse final de semana. Vamos esquecer o mundo e nos concentrarmos nesse amor que sentimos um pelo outro. Deixe-me senti-la minha novamente.
- Não quero sofrer Gabriel. E o que será de mim, de nós na segunda?
- Ficaremos juntos Sofia, confie em mim.
Sofia abraçou-o fortemente entregando mais uma vez seu coração e sua alma.
Foi um final de semana realmente encantado. Sofia não sentia mais dores e chegou a dar muitas gargalhadas com as brincadeiras de Gabriel. Conversaram muito, fizeram amor em todos os cômodos do apartamento e no final ficavam deitados na sala assistindo televisão como um casal normal.
Na segunda, sentindo um frio na espinha, Sofia observou-o vestir-se assim que ele acordou.
- Não vai se vestir? – Gabriel perguntou enquanto calçava os sapatos.
- Não vou ao trabalho hoje.
- Sim, eu sei. Você não vai porque tem uma consulta hoje.
- Mas, é daqui à uma hora e...
- Sim. E nós vamos buscar seu exame se sangue e depois iremos ao consultório de seu médico.
- Não precisa ir comigo Gabriel. Não precisa fazer isso.
- Mas eu quero. Vamos, preguiçosa. Não temos muito tempo.
Sem opção, Sofia levantou-se e foi ao banheiro. Em seguida optou por um vestido comprido de frente única e cor de rosa. Calçou sandálias de salto baixo brancas e trançou os cabelos. Passou gloss nos lábios carnudos e um pouco de blush para dar colorido ao rosto um pouco pálido.
Pronta, sorriu quando ele a beijou docemente.
No fundo, Sofia sentia que alguma coisa de ruim iria acontecer, mas tentou não se preocupar com isso. Afinal, estava com Gabriel e o que poderia dar errado?

Três dias depois...

Gabriel levantou-se da poltrona e certificou-se de que Sofia continuava dormindo. Os últimos três dias não estavam sendo fáceis para ninguém e principalmente para ela. Enfraquecida pelas sessões de quimioterapia, ela mal sorria e se entregava cada vez mais à doença que invadia seu corpo e tomava conta de seu ser. Aquela segunda-feira fora a mais longa de sua vida. E levara um choque quando à tarde, depois de ter repetido o hemograma e ter feito um mielograma, o doutor Carlos se aproximou e deu a tão terrível noticia para ele. Sofia estava com leucemia. Foi realmente um choque. E precisou muito da ajuda de Maria e de João para contar a Sofia a verdade. E depois do choque ela simplesmente mandou-o embora do quarto entregando-se ao choro compulsivo e desesperado. Desde então permaneceu ao lado dela, mas apenas quando Sofia dormia. Sempre que ela parecia acordar, ele saía, pois não queria deixá-la mais nervosa.
Os pais foram avisados e chegaram no dia seguinte oferecendo toda proteção e carinho que ela necessitava. Curioso como algo tão ruim, como aquela doença, possuía o poder de reaproximar as pessoas. Só não conseguia entender porque ela os afastava cada vez mais. Sentia-se fracassado por não poder ajudá-la. Vê-la ali, deitada naquela cama tão frágil, o fazia rever sua própria fraqueza e sua própria incapacidade como ser humano.
Não deveria ter se casado com Letícia. Fora um erro grave que cometera e naquele momento a separação parecia ser a única coisa sensata entre eles. Apesar dela tentar de todas as maneiras salvar o breve e recente casamento dos dois. Naquele dia quando soube da doença de Sofia, a deixou no hospital e em casa se entregou ao desespero chegando a confessar para sua esposa tudo que aconteceu. O encontro dos dois enquanto estavam noivos, o envolvimento, o reencontro, as preocupações e por fim a doença. Letícia ficou arrasada e resolveu passar a noite na casa dos pais, onde estava até aquele dia.
Sussurrando algo incompreensível, aos poucos Sofia foi despertando sentindo uma terrível sede. Gabriel, pego de surpresa, resolveu continuar no quarto. Os pais dela estavam tomando café na lanchonete do hospital e não queria deixá-la sozinha.
- Pensei que havia ido embora – disse ela fitando-o intensamente.
- Não fui. Estive com você esses três dias enquanto dormia.
- Senti a sua falta – confessou ela com um meio sorriso.
O coração de Gabriel acelerou com aquela revelação. Talvez tivessem uma chance, pensou.
- Lembra-se de quando nos conhecemos? – Ela indagou, com expressão sonhadora no rosto.
- Claro que sim. Maria havia organizado uma breve reunião com amigos e convidou João que me levou. Você estava linda de saia jeans com aquela blusa com ombro caído. Perdi o controle...
- Eu fiquei louca quando o vi também. E fiquei ainda mais quando soube que estava noivo. Mesmo sabendo que estava errada, no dia seguinte liguei para você e ficamos conversando sem nem ao menos eu me identificar. Só no final, na hora de me despedir, revelei a minha identidade.
- Fiquei surpreso – disse ele aproximando a poltrona da cama e sentando, segurando sua mão em seguida. – E então, marcamos aquele encontro e foi uma loucura. Acho que foi naquele dia que você roubou meu coração.
- Mas, se casou com outra – acusou ela gentilmente. – Hoje posso entendê-lo melhor Gabriel. E quero pedir um favor.
- Peça, meu amor, eu farei o que pedir.
Sofia o fitou triste. Após uma breve hesitação, tentou encontrar as palavras certas.
- Acho melhor... Você voltar para a sua esposa. Não terá futuro ao meu lado. Não tenho irmãos e meus pais não são compatíveis comigo. Não quero que...
- Pare Sofia! Você não faz idéia do que me pede.
- Sim, eu faço. Por favor Gabriel, escute-me. Não quero deixá-lo sozinho. Não quero...
- Não peça isso Sofia... Amo você. Você é meu amor, minha vida.
Os olhos de Sofia encheram-se de lágrimas e não tentou retê-las. Talvez aquela fosse a última vez que iria chorar e sentir o sabor salgado das lágrimas, que mesmo sofridas, indicava os últimos resquícios de sua vida esvaindo lentamente.
- Se me ama mesmo como diz, prometa Gabriel, prometa que irá voltar para sua esposa, reconstruirá seu casamento e terá filhos. Filhos que não poderei dar.
- Encontraremos um doador para você, meu amor. Você irá se salvar e ficaremos juntos.
- Gabriel, prometa, por favor.
Cansada, Sofia teve uma forte tosse preocupando Gabriel. Para tranquiliza-la e mesmo sabendo que estava mentindo, resolveu entrar em seu jogo.
- Se eu prometer, você irá descansar?
- É por isso que quero que prometa. Quero que seja feliz com sua esposa e que tenha uma família... Aquela que não... Poderei dar.
As últimas palavras saíram baixinho indicando o quanto estava cansada.
Gabriel apertou sua mão entre as suas e beijou-a delicadamente nos lábios.
- Prometo, meu amor. Prometo que terei uma família... Ao seu lado – completou baixinho quando percebeu que ela havia voltado a dormir.

No dia seguinte, ao chegar ao hospital, Gabriel encontrou os pais de Sofia e Maria chorando desolados no corredor. Preocupado, correu para o quarto a tempo de ver um padre fazendo uma breve prece. Ela havia morrido naquela manhã depois de dizer o quanto amava seus pais e sua amiga. Gabriel encostou-se na parede do quarto desolado. Não podia acreditar que ela o havia deixado. Não podia acreditar que ontem ela estava se despedindo sem ao menos contar a ele o que pretendia fazer – entregar-se àquela doença odiosa e jogar-se nos braços da morte sem ao menos dar chance aos dois. Sentiu os braços de Maria em sua volta tentando consolá-lo e a única coisa que conseguia sentir era traição. Havia sido traído... O que faria? Sofia morreu... Deixando-o só... Não suportava aquele hospital. Não suportava aquele cheiro da morte rondando-o. Saiu do hospital, cego pelas lágrimas e encontrou Letícia ao lado do seu carro.
- Por alguma razão, algo me fez vir aqui – disse ela sentindo a dor do marido.Gabriel abraçou a esposa chorando pela morte da mulher amada. E no fundo sabia que o amor era mais forte que a morte. E que continuaria seguindo a sua vida amando Sofia...

Mais um...

Olá, esse deve ser o meu décimo... "alguma coisa" blog! Sempre gostei de escrever. E como toda cabeça de escritor as ideias surgem sem controle. Pelo menos a minha é assim. Hoje, após um tempo considerável, a criatividade voltou a reinar em minha vida! Também não era para menos. Após muita pesquisa (dramalhões mexicanos no youtube - isso mesmo, novela - romances by Diana Palmer; músicas dor-de-cotovelo e filmes água com açucar), se nada saísse então o problema era realmente mais sério que imaginava! Mas, não é sobre isso que quero falar no momento. A verdade é que quero deixar isso para outra ocasião. Enquanto deixava minha tão amada criatividade fluir no papel, tive uma outra ideia. Parecia que meu cerebro havia se dividido em dois. De um lado a criatividade, no outro a ideia. E essa ideia é exatamente esse blog. Amo ler. Amo livros! Depois que minha dentista revelou que "alugava" livros em uma locadora de... livros (dããã) na minha cidade (Juiz de Fora), tornei-me figurinha carimbada daquele lugar. Pelo menos me considero assim. Cada livro que peguei é um mundo a parte, um outro mundo. Algo a se descobrir, compartilhar e vivenciar. E é exatamente isso que quero fazer. Compartilhar, abrir para discussões e dividir as experiências de cada mundo diferente. Seja algo imaginário ou até mesmo algo real. E quem sabe dividir também minha "criatividade"! Afinal, em cada capa tem um mundo a se descobrir, um outro... mundo!